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No sótão, ela faz e refaz versos recheados de sentimentalidades. Nas anotações em rascunhos há tantas palavras que traduzem momentos que até mesmo o silêncio canta ao interpretar suas letras. Há palavras dentro de um caderno que parece mais um baú de letras fáceis que contam histórias e ilusões. Na beleza dos versos, a Menina do sótão traz palavras contadas em dias de tantas segundas-feiras…

Lu, seja muito bem vinda!

Segunda-feira (conto)

image E como foi que tudo aquilo aconteceu? – perguntava-se ela ali em seu canto, encolhida em seu próprio corpo, descoberto. Completamente desnudado. A pele feita avesso. As linhas feito curvas e retas exibidas ali, naquele cenário desconhecido. Seu olhar aturdido revirava cada centimetro daquele lugar como se buscasse reconhecer alguma coisa. Encontrou sua bolsa, suas peças de roupas pelo chão…

Ela engoliu seco ao se dar conta de seus atos. Incrédula. Tentou não fazer barulho algum chegando ao absurdo de conter a própria respiração por alguns segundos.

Sua pele mostrou trêmula e sua vergonha nunca antes esteve tão intensa como agora. Lembrou-se dos conselhos de sua mãe primeira “meninas direitas não deixam o homem por a mão aqui e ali” ela repetia os gestos de sua mãe, cobrindo os seios e seu sexo como se tivesse cometido o mais terrível dos pecados, foi então que sentiu cair sobre sua derme todos os pecados cristãos. Lembrou-se da santa que era virgem, do santo que não tocou sua esposa por honra ao seu deus, do padre, do bispo, do papa e se apressou em fazer o sinal da cruz, dezenas de vezes. Queria ter em mão um rosário para confeccionar todas as aves marias com antecedência, Rezaria quantas tantas fossem preciso.

E ao ver sua pele nua, tratou de cobrir-se com aquele lençol pecaminoso. Mas ao fazê-lo, desnudou o outro e sua vergonha que dormia ali ao lado. Ela tentou não se ater aquelas imperfeições pecaminosas. Buscou pelo que olhar, mas seus olhos (pecadores) insistiam em buscar por aqueles traços tão cheios de retas, belezas e pecados espalhados ali naquele colchão velho, cheirando a gozo…

Ela rapidamente se benzeu seguidamente, engolindo o ar com desespero e ânsia. Dizia repetidamente para si mesma “não, não e não” como forma de recusar seus devaneios, libertar-se dos desejos que dançavam na pele inquieta. Mas o não se desfez em seus lábios que foram roubados pelo outro, desperto, afoito, com mãos inflamadas, sorriso imoral e suas ideias, deliciosamente pecadoras. O outro, insensato, livre de lembranças e culpas mergulhou naquele corpo com toda vontade e quando ela voltou a pensar, já era segunda-feira…

Lunna Guedes

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