Ela estava contemplando o sol deitar-se atrás daquelas ilhas. O dia estava cansado. Mas mesmo assim, esgotado, ele ainda tinha forças para colorir a sua despedida. Os olhos de Sofia vibravam observando aquela tela natural que os anjos, ou talvez Deus pintasse. Era um pôr-do-sol escultural. O verde das árvores misturava-se ao azul do mar e ao alaranjado do céu. Os barcos ancorados no cais pincelavam aquele quadro em tons clássicos. Um espetáculo! Uma combinação de cores invejáveis. Assim, era o final de suas tardes de verão: sentia a brisa tocar seu rosto e despedia-se do sol.
Naquele momento só existia ela e a paisagem, que nunca se repetia. Cada dia tinha tons diferentes. Sofia desligava do mundo, esquecia de tudo. Mas por um instante sentiu a presença de alguém que também fazia parte daquele ritual vespertino. Era Pescador que estava ali, sentado, testemunhando tudo. Ele apenas olhou para Sofia e disse:- É lindo, menina?!

Com um gesto afirmativo, balançou a cabeça timidamente, confirmando a frase daquele velho lobo do mar. Ela não queria que ninguém atrapalhasse aquele momento, não conseguia desviar o seu olhar daquele cenário. “Lindo mesmo é olhar o sol de perto!” – Pensou Sofia.

– Bonito, é poder olhar tudo de perto, menina! – Essas foram as palavras de Pescador.

Sofia olhou assustada para ele. Era como se aquele ‘pescador intrometido’ estivesse em sua mente. Tentou ignorar a sua presença, mas parecia impossível. Eles estavam interligados, unidos por aquela maravilha natural. Aproximando-se dele, Sofia pediu para contar tudo o que sabia sobre o mar, o sol ou de um provável encontro dos dois no infinito. Sentado na proa do seu barco, olhando para aquela menina que parecia duvidar das suas façanhas marítimas, começou a parafrasear uma verdadeira harmonia com a natureza.

– Nós somos um grão de areia nesse universo de praia, menina! Criaturas pequenas que ficam inertes diante de tanta beleza. Encontros naturais são inexplicáveis! Tudo isso é apenas perceptível. Os nossos pensamentos não conseguem acompanhar o verdadeiro significado dessas expressões que o sol, o mar, a lua e até mesmo as pedras ensinam e representam. A natureza é grande e escultural! É pura! O sol é a estrela maior, que ilumina todo o dia. É ele que aquece a alma, dá vida ao mar, encanta os peixes e alimenta a terra. Ele dorme aqui, mas desperta no horizonte. E é olhando desse ângulo, que ele fica pequeno, imóvel e tocável! Sim, tocável… Segure o sol quando você se sentir pequena, ele não morre, apenas renasce! Deixe a lua te ilunimar! Caminhe pelas estrelas, o mar seca as suas lágrimas. Tudo isso parece irreal, mas o encontro no infinito está no seu coração!

Fez-se silêncio naquele momento. O único barulho que se ouvia, era o das ondas. Sofia, finalmente olhou nos olhos cansados daquele homem e sorriu… Ele não era mais aquele ‘pescador intrometido’, era um conhecedor, um sábio… E voltando novamente para o horizonte, Sofia pode sentir tudo aquilo que fora pronunciado pelo poeta dos mares. Era uma filosofia de vida. Naquele instante ela entendeu a sensibilidade daquelas metáforas. O horizonte estava mais belo, ela estava perceptível!