Passando despretensiosamente os canais da TV, eis que me deparo com “The best of E.R.” [que maravilha!!!], e coincidentemente o episódio do qual me vejo diante é nada mais nada menos que “On the beach” [o melhor de todos os tempos], e sob meus olhos mais que atentos o Dr. Mark Greene morre pela milésima vez e pela milésima vez eu me debulho em lágrimas como se um pouco de mim também morresse ao som de Somewhere over the rainbow.
Tamanhos perda e pranto representam bem mais para mim do que apenas a ausência de um personagem marcante. Fazem-me pensar na fragilidade humana diante das perdas e no quão vulneráveis somos às nossas próprias limitações. Talvez nunca venhamos a entender a ausência não-consentida daqueles que nos são importantes, mas ao menos nos consola fantasiar um outro plano, onde o reencontro se fará eterno e as almas conjugarão um estado pleno de êxtase.
“Ninguém morre de fato enquanto permanece vivo no coração de alguém”.
Entretanto, quando as pessoas morrem dentro de nós, já não há fantasias, já não restam ilusões de caminhos entrelaçados. Sobra apenas um profundo nada em um espaço, antes tão perfeitamente ocupado. E esse abscesso dentro de um coração não advém de um fácil processo. Tornar-se homicida de parte de si mesmo pode ser mais doloroso que a dor veloz de uma bala, posto que é lento, é gradual, é árduo e ao fim de tudo, definitivo.
Mata-se alguém dentro de si quando o sentimento é grande demais, mas infinitamente frágil para suportar batalhes que, insistentemente, ameacem a sua existência ou ainda quando este mesmo sentimento não se mostra capaz de reerguer a estrutura de um coração em ruínas.
E é pensando novamente em perdas, em mortes… que penso não se fazerem necessárias lágrimas por aqueles que partiram, mas que permanecem vivos em nós e através de nós. Em contrapartida, que jorrem prantos de dor por aqueles a quem poderíamos seguir amando, ou simplesmente recordando as boas lembranças, mas que por razão qualquer ou mesmo por omissão optaram por morrer passivamente dentro de um coração que um dia lhes dedicou afeição.
E assim tantos “nadas” e “ninguéns” [com o perdão do neologismo] que um dia foram tudo seguem apenas como contos que alimentam a imaginação de novos autores que agora reescrevem a mesma história.
[Escrito originalmente em 11.08.2006]