Acho que você nem sabe se eu acredito ou não em coincidências, não é?! Ou melhor, você nem me conhece direito. E quando falo em conhecer não é físico, e sim em sentimentos, paixões, vontades e essa minha compulsão por escrever… Sabe apenas que eu “curto” música e pintura, mas me conhecer de verdade, isso não!

“Você é um olhar no infinito, um mar de mistérios.” Lembra que uma vez tu me disseste isso?!

Mas por que saber de tudo sobre mim se a vida nos reserva tantas surpresas, não é?! E são essas pequenas coisas que faz da vida uma constante busca e uma aventura incontrolável…

Por que eu estou falando tudo isso?!

Porque antes de te encontrar casualmente, eu fiquei sabendo que você perguntou por mim, não tinha nem meia hora. E o engraçado que eu me comportei naturalmente, ao telefone, e apenas pedi para retribuir o abraço. Sem muitas emoções, sem qualquer excitação. E acreditando em coincidência ou não, depois de um ano sem sequer nos “esbarramos” na rua, eu recebo um recado seu e ainda te encontro casualmente.

Eu sinto saudades sim, de quando saíamos para dançar, ouvir música, jogar buraco, conversar, rir à toa… E eu ficava fascinada quando você falava sobre pintura e seus quadros abstratos que tinham significados diversos e expressivos. Eu parecia uma criança ouvindo você falar, sem soltar um só verbo, apenas ficava em silêncio absorvendo conhecimento e viajando em suas palavras pintadas, cheia de formas e cores.

Você sempre achou que eu nunca me interessei por mais nada além de músicas e sons, não é?! Lembro da sua cara completamente assustada quando recitei Olavo Bilac, quando falei da Semana de Arte Moderna, quando disse que admirava Tarsila do Amaral, e tantas outras situações que pareciam chocantes para ti. A tela que tu pintavas da minha vida, era sem brilho, sem cores… Um quadro de uma garota desinformada, festeira que adora curtir a vida sem maiores conseqüências. Tudo isso porque eu nunca deixei você me conhecer verdadeiramente. Eu escondia as minhas emoções e conhecimento atrás daquela caixinha de pincéis que nunca saia de cima da sua mesinha improvisada…

Aos poucos eu fui me colorindo para você. Ganhei formas, cores vivas e brilhantes que cintilavam ao longe, mas sempre fui uma pintura abstrata cheia de mistérios. E antes que você descobrisse todas as minhas formas, minhas cores, minhas vibrações… eu sumi, desapareci! Ou melhor, nos perdemos nesse universo infinito onde as linhas paralelas nunca se encontram… A minha tela ficou inacabada, encostada naquele canto e tu ainda tens vontade de entender o porquê desse olhar cheio de dúvidas e mistérios.

E justamente hoje, quando decidi retomar o curso de pintura, quando fiquei sabendo que perguntastes por mim, eu encontro contigo em frente ao supermercado. Será que tenho que passar a acreditar em coincidência, ou tudo isso foi um encontro casual que estava escrito?! Sei lá!

Coincidência ou não, o fato é que nos reencontramos. E o seu olhar ainda tem aquele tom vibrante e o meu, continua misterioso e abstrato. E mais uma vez me perdi naquelas cores que me enfeitiçam. Trocamos olhares, versos, palavras, tintas e poesias, tudo isso num tempo miraculoso de quinze minutos e cheio de vibrações.

Vamos Pintar?!

Eu te ligo mais tarde…

Você sempre tentando me conhecer um pouco mais, porém o meu olhar continua no infinito e com muito mais mistérios. Sou uma pintura completamente abstrata!

(Suzana Martins 03/12/2008)

*Desculpem a confusão das palavra e o mal jeito com os pincéis. Mas existem momentos que são completamente confusos e inexplicáveis. E existem telas completamente abstratas e cheias de enigmas…