Gosto de atravessar a cidade e observar a solidão que perdura em meio ao caos urbano. A paisagem pós vendaval sempre desperta o melhor de mim. A cidade se enfeita. O chão parece um céu estrelado com folhas e flores a enfeitar os espaços. Há quem reclame do que fica depois de um vendaval. Eu apenas contemplo a beleza que aparecem "entre os sucessivos solavancos que projetam veias de anil",(*)
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A natureza desenha gigantescas paisagens dentro das suas imagens para reinventar as estações. No meio do inverno, um calor a avistar o amanhecer ora cinza, ora colorido. Silhuetas, hachuras, rascunhos e tantos outros detalhes a provocar poesia.
Toda vez que atravesso a cidade vivo a divagar pelos seus corredores e a observar destinos ilusórios...
Lembro da época que não tínhamos máquina fotográfica e o meu pai sempre chamava um retratista para fotografar momentos em família. Fotos na sala, eu e meu irmão brincando no quintal, minha mãe cozinhando, meu pai trabalhando... e por aí vai. Sábado era o dia oficial de tirar retratos, como dizia meu pai. O fotógrafo virou amigo da família!
Gosto de apreciar as nuances do dia quando os raios solares rasgam as nuvens em perfeita harmonia com o vento. Ou, quando em sua despedida, abraça o horizonte magistral exibindo cores que provocam arreios, versos e outras lembranças que preenchem o momento.
Fotografar detalhes perdidos é permitir que a frágil lente exista. É habitar entre o pulsar oculto de todas as palavras e o invisível registro do hoje. É permitir a leveza dos passos quando o olhar atravessa a paisagem esquecida pela poesia sensível dos retratos. É perder-se entre caminhos e vielas atrevidas que afloram todas as miudezas sensíveis.