Tempestades de solidão
Ela deitou. Estava cansada dos ruídos que percorriam sua derme. Queria trancar-se dentro da sua caixa de Pandora e ficar esquecida para sempre. Havia diversas imagens dentro de si, e todas essas cenas a incomodava. Victória fechou seus olhos para não assistir ao desfile de ausências que teimavam em embalar o seu sono.
Não era carnaval, ela nem gostava da tal data, porém, eram esses tais desfiles que estampavam a sua dor. Ela queria mesmo era esquecer as tais alegorias que a atormentava. Victória queria perder-se em seu canto, ficar às escuras, pois assim, o silêncio deitaria ao seu lado num aconchego de solidão. Ela gostava de ficar a sós.
Victória fechou os olhos e esqueceu as imagens do mundo exterior que tanto a atormentava naquele momento. Não falou nada; não queria ecos nem sussurros. E, ali na escuridão, entre as sombras daquele quarto, de olhos fechados, ouviu o silêncio. Ele gritava sobre a igualdade das horas e das noites; e, aquela noite de tormenta era apenas mais uma entre tantas outras. Ao lado da cama de Victória havia uma janela. Aquela velha janela em que ela não cansava de olhar o mundo que corria solitário.
Chovia lá fora e a chuva que caia naquela terra machucada refletia em suas vidraças marcando passos que ela queria ouvir. A chuva caía em suaves murmúrios fingindo anunciar a chegada de alguém. Ouvir aqueles leves passos, era o que ela mais desejava. Não havia passos, não poderia haver chegadas… As gotas eram as suas lágrimas mergulhadas em solidão.
“Mais uma noite de tormenta igual às outras” – pensou.
Sua respiração agora estava ofegante, ela tremia; lágrimas escorriam dos seus olhos, feito chuva no céu. O silêncio incauto ecoava os respingos que batiam em sua janela, como se o seu mundo afetivo pudesse ser menos estéril fora daquela vidraça. Outra sucessão de pensamentos tomava conta de Victória. Outro desfile, múltiplas recordações numa estante de sentimentos que estavam vazias. Havia vazios imensos dentro de si, como os pingos de chuva que se desfaziam na vidraça numa intensidade crescente. Naquele momento, o céu parecia anunciar tempestades, no entanto, dentro de sua alma, o prenúncio daquele temporal de emoções escorria por todas as suas tormentas.
Desassossego. Inquietude. Lágrimas. O vento batia violentamente em sua janela, mas, o barulho surdo das suas lágrimas, que há tempos estrondava seus sentimentos, ficou em silêncio. Os temporais lá fora eram maiores que as suas dores; foi assim, perdida em suas sombras, que Victória esqueceu as tais alegorias doloridas e adormeceu em solidão.
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