Não aprendi a usar as palavras, elas escapam de mim quando mais preciso tê-las comigo. Fico envolta de verbetes embaralhados e sem nenhum sentido que atropelam pensamentos. Palavras desconexas silenciam-se em provérbios chineses e completamente clichês. Traduções aleatórias que sempre ficam por dizer. Então, refugio-me nas madrugadas solitárias que ouve, entende e amanhece todos os meus silêncios. Tenho frases silenciadas em minha boca, são palavras que me rasgam por dentro e ficam por dizer. Tenho na garganta vozes de arestas vincadas que me ferem e me fazem sangrar. Tenho em minha fala discursos contaminados contendo os receios e as incertezas que se condensam numa despedida anunciada. Carrego em minha solidão as palavras desavindas e os rostos escondidos num emaranhado de nós cegos e de cadeados. Estou presa aos sons surdos das palavras que não consigo proferir. Estou em silêncio e dentro de um barulho ensurdecedor que me oprime e veta em dizer as palavras amarradas em minha voz. Estou presa ao espectro do meu olhar sobre as coisas que ainda não abandonei. Tenho as palavras agarradas a ti que pontuaste a minha vida com presenças e partilha. Todos os meus registros estão comprimidos num silêncio de pedras erigido. Conseguirás desatar os nós antes que eu me despeça? Está tão próximo o meu adeus…